quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Angiotomografia de coronárias: Perguntas e respostas!

1)    O que é angiotomografia de coronárias? Que imagens são realizadas no exame?
A angiotomografia de coronárias nada mais é que um exame de tomografia adquirido de tal forma a possibilitar a visualização não invasiva das paredes e da luz das artérias coronárias. Com ela é possível a avaliação das placas ateroscleróticas e a detecção de obstrução nas artérias coronárias. Como todo exame de tomografia, utiliza-se uma fonte de raios X que gira em grande velocidade ao redor do paciente, produzindo várias radiografias que posteriormente são processadas por um computador, resultando em imagem bi e tridimensionais do coração e seus vasos. É importante lembrar que apenas aparelhos de tecnologia avançada (tomógrafos multislice com 64 colunas de detectores ou mais) conseguem realizar o exame com qualidade satisfatória, pois possibilitam a visualização detalhada das coronárias e das placas ateroscleróticas de maneira muito próxima ao cateterismo.

2)    Qual a importância do exame? A quem vai beneficiar?
Antes, a única maneira possível de se avaliar a anatomia das artérias do coração de maneira satisfatória era de maneira invasiva por meio do cateterismo cardíaco. Com o desenvolvimento da angiotomografia, agora podemos identificar e também excluir de maneira confiável a presença de lesões coronárias obstrutivas de forma não invasiva. Além disso, também é possível caracterizar a placa aterosclerótica, mesmo aquelas que não causam obstrução da luz. Vários estudos mostram que as informações da presença de isquemia miocárdica e de placas obstrutivas e não obstrutivas nas coronárias são independentes e complementares na avaliação do risco cardíaco. A cardiologia caminha para que a angiotomografia seja utilizada mais frequentemente para o diagnóstico ou exclusão das obstruções nas coronárias, deixando o cateterismo reservado para das intervenções (angioplastias e colocação de stents).

3)    Para quem está indicada a angiotomografia coronariana?
A indicação mais comum da angiotomografia é para os pacientes com sintomas característicos ou sugestivos de angina e que se enquadram na categoria de risco intermediário. O exame também se aplica naqueles pacientes que tiveram algum teste de isquemia duvidoso ou com resultado conflitante com a suspeita clínica. Outras indicações usuais são na suspeita de anomalias congênitas de coronárias ou na avaliação de pacientes com insuficiência cardíaca de início recente, na qual se quer descartar a presença de doença coronária.

4)    Quem não deve fazer a angiotomografia coronariana?
O exame não está indicado nos pacientes classificados nos extremos da classificação de risco. Aqueles com angina de alto risco devem, a princípio, ser submetidos diretamente ao cateterismo, pois a chance de haver uma obstrução passível de intervenção é muito alta. Já nos pacientes assintomáticos de baixo risco, não há nenhum estudo que prove utilidade da angiotomografia de coronárias. Também merecem especial atenção, e na maioria das vezes o exame é realmente contraindicado, nos pacientes com insuficiência renal avançada (mas que ainda não estão em diálise) e nos indivíduos com alergia comprovada ao contraste iodado. Nos assintomáticos de risco intermediário reserva-se a tomografia para avaliação do escore de cálcio, que serve para detecção de placas calcificadas (não utiliza contraste) e dá informações não sobre a presença de obstruções, mas sim sobre o risco de infarto no futuro (como se fosse o colesterol da imagem).

5)    Há risco na realização do exame?
Trata-se de um exame de baixíssimo risco. Como há a necessidade de infusão de contraste endovenoso, existe a chance de reações alérgicas. No entanto, esta possibilidade é bastante pequena quando se utiliza o contraste iodado não-iônico (o mais recomendado) e quando se realiza uma criteriosa triagem para identificar aquelas pessoas com antecedentes de reação alérgica prévia. Além disso, o serviço deve estar preparado para o atendimento de reações adversas. Também aconselhamos o uso criterioso e monitorização da função renal nos pacientes com insuficiência renal. Vale à pena mencionar que trata-se de um exame que utiliza radiação em níveis atualmente semelhantes aos da cintilografia miocárdica, e a realização repetida destes exames deve ser realizada com parcimônia sobretudo em pacientes jovens. Em resumo, trata-se de um exame não invasivo extremamente seguro, com taxa de complicações muito baixa.

6)    Angiotomografia coronariana veio para complementar os exames cardiovasculares ou substitui algum deles?
A função de todo exame diagnóstico é complementar uma avaliação ou suspeita clínica. Portanto, a indicação correta do exame é fundamental para que ele ajude o médico a tratar e conduzir melhor o seu paciente. Dependendo da situação, a angiotomografia pode sim evitar o cateterismo ou outros exames diagnósticos desnecessários, como mostram vários estudos recentemente publicados. Em outras situações, a angiotomografia complementa a informação obtida pelos exames que pesquisam isquemia, como o teste de esforço e a cintilografia, contribuindo para a classificação do indivíduo em um risco maior ou menor e auxiliando na decisão entre um tratamento medicamentoso, percutâneo (angioplastia) ou cirúrgico. E, como já dito anteriormente, existem situações em que o exame não tem indicação, como pacientes com dor no peito de alto risco. Portanto, o valor de qualquer exame está intimamente ligado a sua correta indicação.

7)    Como é realizada a angiotomografia coronariana?
Para o paciente o exame é rápido e bastante confortável e seguro. Da entrada na sala do aparelho até o término do exame leva-se de 10 a 15 minutos. Na verdade, a aquisição das imagens principais demora de cerca de 8 segundos apenas. Porém, aqui no CDI, geralmente pedimos ao paciente que chegue com 1 hora de antecedência para realizarmos uma entrevista e explicarmos os passos do exame.
Para a pesquisa apenas do escore de cálcio, não é necessária nenhuma medicação ou contraste. Para a realização da angiotomografia coronária (visualização da luz das coronárias), a utilização do contraste iodado é obrigatória. O contraste é o mesmo utilizado no cateterismo, porém infundido por uma veia periférica (no antebraço) e não na artéria Caso não haja nenhuma contra-indicação, é fornecido ½ (meio) comprimido de Isordil ® sublingual (para dilatar as artérias) e, caso a freqüência cardíaca esteja elevada, é administrado um medicamento endovenoso (tartarato de metoprolol) para, dentro da normalidade e de maneira temporária, lentificar os batimentos cardíacos. Ambos os medicamentos são extremamente seguros e administrados somente na ausência de contraindicações. Logo após o exame, o paciente pode exercer suas atividades cotidianas normalmente.

8)    Por que demorou a ter cobertura nos planos de saúde?
Todo avanço tecnológico, não apenas na área da saúde, necessita de um processo de amadurecimento antes de ser empregado em larga escala. Além disso, muitos de seus benefícios (ou malefícios), assim como análises de custo-efetividade, só são perceptíveis após alguns anos do início de sua utilização. Se considerarmos que a tecnologia em tomografia alcançou seu amadurecimento satisfatório para a realização de exames das coronárias há cerca de 5 anos, veremos que o processo de aprovação veio em boa hora. Participei ativamente do processo de inclusão da angiotomografia no ROL de procedimentos com cobertura obrigatória pelos convênios (desenvolvido pela Agência Nacional de Saúde – ANS) e posso dizer que 3 fatores foram fundamentais para o resultado final: a alta demanda da população pelo exame, a demanda dos médicos clínicos pelo exame e os dados da literatura médica que comprovam que este método tem muito a contribuir na prática cardiológica.
No entanto, é muito importante que se saiba que apenas os exames realizados em aparelhos com 64 colunas de detectores ou mais serão cobertos pelos convênios. Além disso, deve-se exigir que os serviços diagnósticos tenham profissionais médicos que possuam treinamento específico em centro reconhecido de pelo menos 2 anos na aquisição e laudo de angiotomografia de coronárias. Isso é fundamental para a utilização segura do exame na prática clínica.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Ressonância Cardíaca: versatilidade e valor prognóstico!

Uma das grandes vantagens da ressonância cardíaca é a possibilidade de se obter, em um único exame, informações relacionadas à função, volumes e massa ventricular, perfusão miocárdica e presença de fibrose/viabilidade. Vários estudos, utilizando diferentes métodos de imagem, mostraram que todas essas informações separadamente possuem valor prognóstico comprovado em pacientes com suspeita ou diagnóstico confirmado de DAC.
Entretanto, recente estudo publicado no Circulation comprova que estas informações acessadas pela ressonância cardíaca em um único exame possuem valor prognóstico independente e complementar em pacientes com suspeita de DAC. Vale a pena conferir!


quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Angiotomo de coronárias vs. Teste de esforço: anatomia vs. função!

Mais um artigo ressaltando a importância da avaliação conjunta de anatomia e presença de isquemia, desta vez com o teste de esforço. Em pacientes sintomáticos as informações da angiotomo de coronárias e do teste ergométrico são independentes e adicionais em termos prognósticos.


CT adds value on top of clinical data, calcium score, and ECG

NOVEMBER 2, 2011 Reed Miller
Rotterdam, the Netherlands - A new comparative study shows that coronary computed tomography angiography (CCTA) has incremental prognostic value over exercise testing in patients with symptoms of coronary disease [1].
The study, by Dr Admir Dedic (Erasmus University Medical Centre, the Netherlands) and colleagues, published in the November 2011 issue of Radiology, also found that patients in whom a diagnostic exercise test is impossible are more likely to have an unfavorable outcome, independent of traditional risk factors, than those who can exercise for an ECG stress test.
In the study, 471 patients with chest pain but no known coronary disease underwent exercise ECG and dual-source CT scanning at a rapid-assessment outpatient chest-pain clinic. The CT scan identified coronary calcification and the presence of coronary stenosis of 50% or greater diameter in one or more vessels, and the exercise ECG results were classified as normal, ischemic, or nondiagnostic. The researchers were able to follow 424 of the patients for an average of 2.6 years, during which 30 patients suffered a total 44 major adverse cardiac events, including four cardiac deaths and six nonfatal MIs.
The three univariable predictors of major adverse coronary events in the study were the presence of coronary calcification (hazard ratio 8.22), obstructive coronary disease (HR 6.22), and nondiagnostic stress-test results (HR 3.00). A multivariable analysis showed that obstructive coronary disease found by CCTA (HR 5.0) and nondiagnostic exercise ECG results (HR 2.9) were independent predictors of major adverse events and that the CCTA findings provided incremental prognostic value beyond clinical predictors and stress-test results alone.
Exercise testing has been "the diagnostic cornerstone" for evaluating ischemic heart disease for the past decade, Dedic et al explain. ECG's power as a predictor of coronary disease events is confirmed in the study insofar as the inability to perform and complete an exercise ECG predicted unfavorable outcomes, because exercise capacity represents contractile left ventricular function and overall physical health, but ischemic ECG changes were not associated with more adverse events in the study. "Presumably, patients with these changes were treated more aggressively, explaining their better event-free survival," the authors note.

Combining functional and anatomical information
"Because the two tests address a different aspect of CAD, I don't think CTA can fully replace stress testing," Dedic toldheartwire. "They should be used as complementary to each other, focusing on their strengths.
In the study, coronary calcium scores did not add further incremental value over CCTA. "It appears that the information obtained with calcium scanning largely overlaps with the information obtained with CT angiography, while the latter also provides such additional characteristics as total plaque burden and luminal obstruction," the authors explain in the paper. But because absence of calcium is associated with a very good prognosis in this population, Dedic said "the general outpatient population with stable anginal complaints would benefit most from an initial calcium scan, [and then] patients with no or abundant calcium should not undergo CCTA," he said.
Above a certain arbitrary calcium score, the positive predictive value of CCTA drops off and the scans become noninterpretable. For these patients and any patients with an intermediate-sized coronary lesion on CCTA or a contraindication for CT, exercise testing is necessary to assess their ischemia, he said. Also, patients with disease in their left main or proximal left anterior descending artery or in three vessels should be referred to invasive angiography, and patients with obstructive disease in one or two nonmajor vessels should be treated with optimal medical therapy and then reevaluated with exercise testing if necessary, he said.
Patients with nonobstructive coronary plaque appearing on CCTA can be reassured that their risk of future events is relatively low, but they should focus on modifying any risk factors they may have through diet, exercise, smoking cessation, etc, Dedic said.
Although the study enrolled "all-comers," it was a single-center trial and therefore may not necessarily reflect the entire chest-pain population. A large randomized trial is now needed to compare the efficacy, safety, and cost-effectiveness of a diagnostic workup strategy including CCTA and exercise testing. Dedic et al hope that the ongoing Computed Tomography Versus Exercise Testing in Suspected Coronary Artery Disease (CRESCENT) trial will provide answers to these questions. CRESCENT is randomizing patients with stable chest pain to one of two diagnostic strategies: cardiac CT followed by stress testing, invasive angiography, or neither depending on the CT scan result; or standard diagnostic management, including stress testing and/or invasive angiography.
The authors have no potential relevant conflicts of interest to disclose. 

Estudo CONFIRM:

As ferramentas tradicionais para estimativa de probabilidade pre-teste de DAC, entre eles o Diamond and Forrester e o CASS, tendem a superestimar a chance de o paciente ter DAC obstrutiva verificado pela angiotomografia de coronárias. É o que verifica o estudo CONFIRM, publicado no Circulation (24 de outubro 2011). Trata-se de um estudo cujo  objetivo principal foi avaliar prospectivamente o valor prognóstico da angiotomo de coronárias.

Tal achado vem de encontro com o grande número de testes ergométricos realizados em pacientes de risco intermediário mas que são na verdade de baixo risco, aumentando o número de falsos positivos (prevalência baixa de doença) e levando a um grande número de cateterismos "brancos"!


Los Angeles, CA - The methods commonly used to estimate the pretest likelihood of coronary disease in patients referred for computed-tomography angiography (CTA) greatly overestimate the actual prevalence of coronary disease, especially in women, new data from the CONFIRM registry show [1].
The study was published online October 24, 2011 in Circulation.
CONFIRM senior investigator Dr James Min (Cedars-Sinai Medical Center, Los Angeles, CA) told heartwire, "We found that our ability to accurately estimate the pretest likelihood was pretty poor, on average, and whatever pretest likelihood estimate we came up with was usually about three times higher than the actual observed prevalence of disease."
"We've put this out as a wake-up call that maybe a lot of these people don't need testing," Min said. "Maybe we're just severely overestimating the likelihood of disease, and in fact we're just wrong on our pretest estimates."
Min explained that the most common methods for estimating a patient's chances of having coronary disease, such as the Diamond-Forrester risk score or the Coronary Artery Surgery Study (CASS) criteria, are based on age, gender, and the patient's angina symptoms. These systems were created several decades ago, before statins, at a time when smoking was much more prevalent. These methods were developed for patients referred for invasive coronary angiography but are still being applied to patients referred for noninvasive CT imaging, Min said. "We thought that it was maybe a different population and, for a whole host of reasons, we felt a contemporary revision was needed."
The CONFIRM researchers, led by Dr Victor Cheng (Cedars-Sinai Medical Center, Los Angeles, CA), identified 14 048 consecutive patients with suspected CAD who underwent coronary CTA. The patients' pretest likelihoods of CAD were estimated based on the table of probabilities in 2003 American College of Cardiology/American Heart Associationclinical practice guidelines for management of patients with stable angina. The likelihood of each patient having at least a 50%-diameter coronary stenosis (CAD50) and the chances they had at least a 70%-diameter stenosis (CAD70) were calculated separately and then compared with the findings from CTA images. In the study, typical angina was associated with CAD50 in 40% of men and 19% of women and CAD70 in 27% of men and 11% of women and was a better predictor of the appearance of disease in the CT images than any of the other symptom categories (p<0.001 for all comparisons).
Importantly, the CAD50 and CAD70 prevalence observed in the CTA images was substantially lower than the prevalence predicted with traditional estimate methods. In the overall population, the estimate of CAD50 prevalence calculated with the conventional method was 51%, but the prevalence of CAD50 as seen in the images was only 18%. For CAD70, the estimated prevalence was 42%, but the prevalence seen in the CT images was only 10% (p<0.001).
The marked overestimation of disease prevalence by the standard probability methods was found at all participating centers and across all sex and age subgroups. Min pointed out that the prevalence of coronary disease is more severely overestimated in women. For women, the estimate prevalence of CAD50 and prevalence shown by CTA was 41% vs 13%. For CAD70, the estimate was 26%, but the observed prevalence in the images was only 6%. "We were just really off on our estimates of the likelihood of disease in women," Min said.

A new blueprint for estimating CAD risk
The results of the study "suggest that successfully updating pretest probability estimates of CAD in populations similar to CONFIRM may identify a large percentage of low- or intermediate-likelihood patients in whom additional testing may not be warranted," Cheng et al explain.
"This might serve as a blueprint for people who are considering testing for noninvasive imaging. . . . They can look at these tables and say, 'I thought it was 45%, but it's really 15%, so maybe I'll consider not testing this individual,' " Min said. His group expects to soon produce a list of "parsimonious questions" that physicians can ask of their patients to quickly and accurately estimate their risk of CAD.
Min pointed out that so far all of the pretest likelihood methods provide estimates of coronary disease, not estimates of the likelihood of coronary events. So the next step for the CONFIRM researchers will be to develop global scoring systems to estimate both the risk of coronary disease and the risk of coronary events, he explained.
This study was supported by the National Heart, Lung, and Blood Institute.